segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O legado da Deusa



Dentro da senda mágicka temos um carinho especial por toda a ritualística dedicada à Grande Mãe em seus diversos aspectos. Donzela, mãe e anciã, todas as suas faces são veneradas, pois são partes de uma só força, um mesmo poder, gerador e transformador, que permeia nossas vidas.

O desabrochar da Deusa que agora celebramos se vincula de forma muito tenaz ao Sagrado Feminino.

Mas o que é o Sagrado Feminino?

Conforme Caroline Iene Shanti, "O Sagrado Feminino é um mundo de mistérios e clareza. É permitir que a mulher e não só ela, mas ambos os sexos despertem em seu interior a energia feminina.
Todo ser humano traz dentro de si duas polaridades: masculino e feminino, yang e yin. Com a era patriarcal, explorou-se o masculino anulando a energia feminina, criando uma sociedade que há todo momento compete pelo poder, robótica e mental. Perdendo-se a energia do Amor, da Compaixão e do Respeito mutuo, é necessário que essas duas polaridades estejam equilibradas para o ser humano estar em paz."

De uma forma simples, é o religare, o resgate de uma consciência antiga, que coloca a sacralidade feminina, em todos os seus aspectos, em ponto de equilíbrio dentro da nossa realidade social. É o respeito aos princípios que nos ligam à terra e todo o aspecto gerador nela inserido, e isso independe de ser homem ou mulher, pois está dentro de cada um de nós.
Mirella Faur, sobre o tema, destaca:

As últimas décadas do século passado proporcionaram uma gradativa mudança de paradigmas nas relações e nos conceitos relativos ao masculino e feminino. No entanto, para que este avanço teórico se concretize em ações e modificações comportamentais e espirituais, é imprescindível reconhecer a união harmoniosa e complementar das polaridades e procurar novos símbolos e rituais para o seu fortalecimento e equilíbrio. Com o surgimento progressivo de uma dimensão feminina da Divindade na atual consciência coletiva, está sendo fortalecido o retorno à Deusa e a revalorização do Sagrado Feminino.
Somos nós que estamos voltando à Deusa, pois Ela sempre esteve ao nosso lado, apenas oculta na bruma do esquecimento e velada pela nossa falta de compreensão e conexão com seu eterno amor e poder.
A principal diferença entre o Pai patriarcal, celeste e a Mãe cósmica e telúrica universal é a condição transcendente e longínqua do Criador e a essência imanente e eternamente presente da Criadora, em todas as manifestações da Natureza.
A redenção do Sagrado Feminino diz respeito tanto à mulher quanto ao homem. Ao esperar respostas e soluções vindas do Céu, esquecemos de olhar para baixo e ao redor, ignorando as necessidades da nossa Mãe Terra e de todos os nossos irmãos de criação. Para que os valores femininos possam ser compreendidos e vividos, são necessárias profundas mudanças em todas as áreas: social, política, cultural, econômica, familiar e espiritual. Uma nova consciência do Sagrado Feminino surgirá tão somente quando for resgatada a conexão espiritual com a Mãe Terra, percebida e honrada a Teia Cósmica à qual todos nós pertencemos e assumida a responsabilidade de zelar pelo seu equilíbrio e preservação.
O reconhecimento do Sagrado Feminino deve ser uma busca de todos, porém cabe às mulheres uma responsabilidade maior, devido à sua ancestral e profunda conexão com os arquétipos, atributos, faces, ciclos e energias da Grande Mãe. 
Leia a íntegra do texto em: http://www.teiadethea.org/?q=node/92.

Assim, cumpre às mulheres, em especial as que seguem a Tradição da Arte Real, honrar os seus ciclos e reforçar a conexão com a Grande Mãe, o que pode ser feito através de círculos, encontros, conversas ou mesmo através de uma singela a celebração silenciosa, a cada novo despertar, agradecendo por tudo aquilo que Ela nos concede e nos ensina.

E este, eu acredito, é o legado da Deusa. Que ela nunca mais seja esquecida ou sobrepujada pela humanidade, mas que seja honrada, respeitada e sua adoração mantida ao longo dos tempos.

O querido Mestre Íbis dedica grande parte de sua obra literária falando deste encontro com a Deusa, que para ele, pode ser simplesmente chamado de Natureza, pois ela está em tudo, assim como está em nós.

Em sua obra "Encontrando a Deusa", temos uma bela passagem que retrata a questão do Sagrado Feminino e o seu resgate:
 
Houve o tempo em que todos veneravam a Deusa e, para ela, acendiam incensos e ofertavam óleos perfumados. Mas, chegou um novo tempo em que outras religiões se impuseram pela espada e pela tortura. E, os que amavam a Deusa foram queimados, pisoteados pelos cavalos dos soldados das forças religiosas e estes impuseram seu Deus, e os que não o aceitavam, os que continuariam amando a Deusa, foram perseguidos e quase exterminados. Mas a verdade não morreu. Passavam-se gerações e gerações, e eis que em algum tempo brotava no coração, dos que descendiam daqueles que amaram a Deusa acima de suas próprias vidas, uma chama intensa e permanente. E, esses, de repente, ouviam na escuridão de suas almas a voz da Deusa que despertara em seu coração, como desperta o Sol em todas as manhãs.
Então, aquele que passaria a caminhar pelo Caminho da Deusa, compreendia que voltara para a verdade de seus antepassados e recebia o canto celestial da Deusa, sentindo que sua vida estava transmudada, pois seu coração entendera Aquela que reina e reinará em todos os tempos, mesmo que muitos não a compreendam.
E estes que escutavam novamente a voz da Deusa se reuniam, muitas vezes secretamente, pois desejavam se fortalecer uns nos outros. E, assim, formavam pequenas sociedades subterrâneas, Cóvens, e lá, na discrição de seus templos improvisados, nas clareiras de um bosque, ou nas igrejas de outras religiões, olhando para dentro de si, cultuavam a Deusa e a alegria de viver em comum com a energia que está em todas as coisas.
E as mulheres se voltavam para a Lua Cheia e dançavam para a Deusa e abriam suas almas e conquistavam o poder do fascínio sobre todas as coisas, pois a Deusa afirma que quem tiver sua alma despertada, será como a Ela, brilhará como uma estrela e terá a formosura das flores. E foi colocada no céu a Lua para que pudessem ver o espelho da Deusa e nele se mirar. E os homens erguiam seus braços para a Deusa do Luar e recebiam as energias para que pudessem continuar nas suas labutas diárias. E a Deusa se colocava no coração de seus filhos e filhas, e derramava o seu poder sobre todos, como se derrama a luz do luar sobre as plantas, sobre as matas, sobre as águas, nas noites de plenilúnio.
E seus filhos, então, voltaram a dançar junto às fogueiras em homenagem a Grande Mãe, e seus corações se abriram novamente para o belo e para a alegria de viver. E se restabelecia o Sagrado Feminino e os deuses reviviam, um por um, pois brotavam nos corações dos que novamente haviam encontrado o Caminho.
Abrir nossos corações para o belo e a para a alegria de viver é o primeiro passo para desenvolver o Sagrado Feminino dentro de si. Mas uma vez dado esse passo, é impossível voltar atrás. O melhor é que nunca estarás só, pois a Deusa que em tudo reside também em nós habita.

Evoé!

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terça-feira, 2 de setembro de 2014

Perséfone e a Primavera

 


Iniciando setembro, já sentimos no ar (embora ainda um pouco gélido pelos aqui pelos pampas gaúchos) uma nova energia, uma essência diferenciada, quase como se recebêssemos um sorriso do Cosmos a cada novo amanhecer.
A partir do entendimento de que nós não Estamos na Natureza, mas sim que nós Somos a Natureza, essas mudanças também começam a se operar dentro de nós, de fora para dentro, e, principalmente, de dentro para fora.

As ideias, que antes estavam sendo planejadas, arquivadas, estruturadas, organizadas, agora parecem que querem alçar voo. O tão aguardado setembro chegou! Com ele, a primavera e todas as festividades que englobam o tão sagrado período de fertilidade da Grande Mãe.

Nos aproximamos de Ostara (no HS), e a Deusa Eostre surge para nos ensinar o respeito por todas as coisas vivas e, principalmente, os cíclicos recomeços e renascimentos, com base no próprio ciclo da Terra.

É momento de ver brotar aquilo que plantamos, ver desabrochar a flor ou o espinho.

É, literalmente, o início de uma nova era dentro do espaço-tempo que vivemos, o Agora.

Na magia, sentimos renovadas a força feminina, do oculto que se mostra e do visível que se esconde, os mistérios da bruxa, da feiticeira, que vê a chegada do seu momento, do seu ápice, do seu reinado sobre a Terra.

Assim, podemos aproveitar a força da Deusa para cultuá-la de acordo com as nossas intenções e direcionando para o que queremos desenvolver magickamente.

Não apenas as mulheres devem fazer a reverência às Deusas, mas os homens também, lembrando de que a partir do princípio do gênero, para todo feminino, há um masculino, e se somos todos um, os homens também devem desenvolver seu aspecto yin, oculto, emotivo, a coluna da esquerda, para que assim possa caminhar em equilíbrio.

Dentre as inúmeras deusas da primavera (Brighid, Eostre, Flora, Freya, Cibele, entre outras), é um especial momento para se reverenciar Perséphone, que em seu aspecto donzela também é conhecida como Core.

Perséfone foi a Deusa escolhida para esta postagem, tendo em vista o seu duplo aspecto de donzela e senhora dos mistérios, Deusa da vida, da morte e do renascimento, os aspectos que devemos reverenciar neste momento.

O trecho abaixo foi retirado do blog http://annaleao.blogspot.com.br/2008/09/persfone-deusa-da-primavera-e-rainha-do.html, e nos faz recordar da importância da referida deusa.

Filha de Zeus e Deméter, esta jovem Deusa grega, enquanto colhia flores, é raptada por Hades, o Deus do Mundo Subterrâneo.
Jacinto foi a flor que seduziu Perséfone atraindo-a ao local onde a terra se abriu, surgindo Hades em sua carruagem dourada, puxada por cavalos imortais.
Contra a sua vontade Perséfone foi levada ao Submundo. Seus gritos não foram ouvidos por nenhum Deus ou mortal, exceto pela Deusa Hécate que os ouviu de sua caverna.
Deméter, Deusa da colheita, da fertilidade e dos grãos, ao perceber o sumisso de sua filha sai a sua procura. Muito triste e lamentosa, sua luz e alegria vão se extinguindo dando lugar a sua ira, o que provoca a seca e o frio na Terra.
Finalmente ao saber por Hécate o paradeiro de Perséfone, Deméter vai até Zeus pedindo que ele interceda junto a Hades para devolver sua filha.
Devido aos apelos da Deusa da fertilidade e às condições que provocou na Terra, Zeus intervem, mesmo tendo dado Perséfone a Hades como parte de um acordo, sem o conhecimento de Deméter. Mas o retorno de Perséfone não pode ser completo. Como já havia comido o fruto do mundo dos mortos, a romã, a Deusa não pode passar mais de seis meses no mundo dos vivos.
Perséfone volta à Terra trazendo com ela a Primavera, mas volta ao Submundo no período de Outono e Inverno.
Kore é outro nome dado à Perséfone para a sua fase Donzela, enquanto nela reina apenas a inocência. Pois ao dar entrada no Submundo e se tornar esposa de Hades, ela se torna a rainha e governante desse mundo junto com o seu Deus. Perséfone amadurece, ganha força e conhecimento.
Como muitas outras Deusas, Perséfone é uma Deusa da vida, da morte e do renascimento. É regente tanto da luz quanto da sombra. Senhora da magia e dos conhecimentos ocultos, ela personifica a força intrínseca e profunda da mulher.
Anna Leão.
Aproveitemos para festejar este novo ciclo, esta nova era, única e individual, de fazer crescer e florescer nossos projetos, ideias e magia!
Damos as boas vindas à energia feminina, à energia de Perséfone, e que a nossa força seja multiplicada neste período de fertilidade, com o poder da Grande Mãe em nosso caminhar.

Evoé!

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