terça-feira, 14 de abril de 2020

O Aprendizado em Tempos Estranhos

 
Estamos vivenciando tempos estranhos, em todos os sentidos.

Ao mesmo tempo em que lidamos com uma Pandemia jamais esperada (pelo menos pela sociedade, embora já prevista por inúmeras correntes esotéricas e astrológicas), nunca vimos tantas pessoas buscando a espiritualidade.

A quarentena forçada, a crise econômica, social, humanitária... a desconexão entre a própria família e o espanto (às vezes com alegre surpresa, outras com pesarosa depressão) de ver-se só nos leva a uma reflexão sobre esse tempo que vivemos, o agora que somos obrigados a enfrentar (pois até o amanhã tornou-se uma estranha realidade).

Vagando pela literatura, encontrei na obra de Carlos Nejar um valoroso poema que me pareceu adequado para contribuir à reflexão:

Poema da devastação


Há uma devastação
nas coisas e nos seres,
como se algum vulcão
abrisse as sobrancelhas
e ali, sobre esse chão,
pousassem as inteiras
angústias, solidões,
passados desesperos
e toda a condição
de homem sem soleira,
ventura tão curta,
punição extrema.

Há uma devastação
nas águas e nos seres;
os peixes, com seus viços,
revolvem-se no umbigo
deste vulcão de escamas.

Há uma devastação
nas plantas e nos seres;
o homem recurvado
com a pálpebra nos joelhos.
As lavas soprarão,
enquanto nós vivermos.
 
– Carlos Nejar, no livro “Canga (Jesualdo Monte)”. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira. 1971.
 
Pois o que vivemos nesses tempos, senão a devastação de nosso falso controle, de nossas falsas ideias de poder, de bens materiais, de autoimportância?

Todos aparecem devastados, arrastando-se entre lamentos que envolvem desde o "não dar conta" das demandas familiares até o desejo de voltar a estar na rua.

Então, o que aprendemos com o atual momento?

Dentro da caminhada mágica, entendemos que tudo é perfeito, e destinado à perfeição. Portanto, a doença, a dor e a morte fazem parte dessa perfeição também.

Aprendemos a olhar para tudo aquilo que hoje não podemos mais fazer, não podemos alcançar... e sim, aceitar que este ciclo está encerrando para toda a humanidade.

Aprendemos a nos recolher e acolher cada parte do nosso ser, inclusive as nossas sombras, e fazer as pazes com nossos demônios pessoais.

Aprendemos a ter empatia, principalmente para os que estão mais próximos de nós, a ter gratidão e a ser solidário com aqueles que mais precisam.

Aprendemos a olhar para a nossa casa (interna e externa) e colocar a mão na massa para organizá-la (física e emocionalmente).

Antes não tínhamos tempo.

Antes não tínhamos vontade.

Antes não tínhamos um porquê.

Agora, não temos mais desculpas... é chegado o momento... de limpar os armários, organizar as prateleiras, remover as poeiras e teias do sótão das nossas emoções... e nos prepararmos para o novo.

Que novo ser está sendo gestado para quando a quarentena terminar?

Esse é o grande aprendizado.

Aproveite e se entregue.