quinta-feira, 10 de julho de 2014

Trevas e Luz


Dentro das mais diversas tradições religiosas há uma linha mítico-ideológica que tem por base a distinção entre bem e mal, trevas e luz.

Tal distinção serve como um porto seguro mas também como uma política de controle das ações humanas: se agires bem, és um ser de luz, se agires mal, um ser negro, das sombras. Isso, é claro, contando que estamos falando em agir bem em pensamentos, atos e palavras. Afinal, quem quer ir para o inferno?

Longe do cristianismo, vemos que a ideia de "lugar de danação" -  no qual a alma do indivíduo não teria um descanso - é anterior aos escritos bíblicos.

A Grolier Universal Encyclopedia(Enciclopédia Universal Grolier, 1971, Vol. 9, p. 205), sobre “Inferno”, diz:

“Os hindus e os budistas consideram o inferno como lugar de purificação espiritual e de restauração final. A tradição islâmica o considera como um lugar de castigo eterno.” O conceito de sofrimento após a morte é encontrado entre os ensinos religiosos pagãos dos povos antigos da Babilônia e do Egito. As crenças dos babilônios e dos assírios retratavam o “mundo inferior . . . como lugar cheio de horrores, . . . presidido por deuses e demônios de grande força e ferocidade”. Embora os antigos textos religiosos egípcios não ensinem que a queima de qualquer vítima individual prosseguiria eternamente, eles deveras retratam o “Outro Mundo” como tendo “covas de fogo” para “os condenados”. — The Religion of Babylonia and Assyria (A Religião de Babilônia e Assíria), de Morris Jastrow Jr., 1898, p. 581; The Book of the Dead (O Livro dos Mortos), com apresentação de E. Wallis Budge, 1960, pp. 135, 144, 149, 151, 153, 161, 200. (Retirado da Wikipedia)

Entretanto, o presente texto busca traçar um novo paradigma para terminar com o dualismo bem x mal, trazendo algumas reflexões acerca da unidade na dualidade, deixando para um outro momento digressões acerca do paraíso x inferno.

A ideia, aqui, é ir além do bem e do mal.

Para tanto, precisamos fazer uma pequena pausa e retornar aos princípios herméticos.

O princípio hermético da polaridade, revelado no Caibalion, nos traz a seguinte reflexão:

“Tudo é duplo; tudo tem dois pólos; tudo tem seu par de opostos; o semelhante e o dessemelhante são uma só coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados.”
Da análise do princípio, podemos chegar a uma apressada conclusão de que tudo é uma coisa só, que não há um bem e um mal e, portanto, totalmente dispensável pensar a respeito... e é então que cometemos nosso maior erro, que é menosprezar as pequenas letras ao final do contrato!

Isso porque não estamos dizendo que bem e mal são a mesma coisa, mas sim que fazem parte de uma ideia única, que em gradações, assim como o amor e ódio, se tocam e se afastam, sendo ambos sentimentos de uma mesma origem.

Assim, quando verificamos luz e sombras, vemos a complementariedade em um e outro. Somente enxergamos a luz porque existe a escuridão, e vice-versa. Um é indispensável ao outro, e da mesma sorte temos esta reflexão dentro de nossa psiquê.

Não há lobos ou cordeiros, e sim um pouco de cada dentro de cada um de nós. Prevalece, como já dizia o Mestre, aquele que alimentamos, mas isso não quer dizer que extinguimos o outro, porque são ambos a polaridade contrária um do outro.

Quando comentamos sobre "não negar sua sombra" ou "acolher a sua escuridão", não fazemos nenhuma apologia à maldade ou recursos mágickos de dano, mas sim a visualizar e reconhecer as trevas que existem dentro de cada um, e, assim, tornar-se novamente inteiro, sem escolher lados, mas simplesmente vivenciando e experienciando o que cada porção de seu próprio Eu está disposto a revelar, através da Luz que ilumina suas escolhas.

Evoé!

NFT

LUZ OU TREVAS

Luz ou trevas.
Fogo, água e mais elementos.
São tudo formas servas.
Da alegria, mágoa e de todos os sentimentos.

Rocha, semente e fruto, a outra existência.
Corpo, Alma e espirito.
São tudo energias à mesma convergência.
Neste todo infinito.

É tudo um todo de fragmentos.
Que vão estreitando laços.
No espaço, no tempo; a melhores nascimentos.
De mais confiantes abraços.

Neste continuo despertar.
O viver, vai renascendo.
A mais e melhor humano ofertar.
Porque o todo, nos vai merecendo.

Convicto, no saber do nosso sentir.
Depois de desnudadas as energias.
Que nos permitem outro consentir.
E desvendar as trevas, sem obscuras magias.

Eduardo Dinis Henriques