No estudo da mística egípcia, encontramos muitas referências ao cubo, não apenas como base da mais perfeita estrutura física já vista (as pirâmides), mas como referência ao próprio mundo no qual existimos (noção platônica) e, ainda, com relação ao potencial humano restrito.
O desenho do cubo expressava a questão do espírito e seu aprisionamento ao corpo humano.
Conforme Moustafa Gadalla, na obra Mística Egípcia:
O egípcio era muito consciente da estrutura em forma de caixa, a qual é o modelo da terra ou do mundo material. A forma estatuária chamada "estátua cubo" é a que prevalece desde o Reino Médio (2040-1783 a.C.). O sujeito era integrado à forma cúbica da pedra. Nessas estátuas cúbicas, há uma poderosa sensação do sujeito emergindo do confinamento do cubo. Seu significado simbólico é de que o princípio espiritual está emergindo do mundo material. A pessoa terrena é colocada de forma indefectível na existência material.
O cultivo das virtudes desejadas tem o efeito de liberar o aspirane do mundo material ao se emergerir da caixa, o eu inferior.
A pessoa Divina é mostrada sentada de forma ereta num cubo, ou seja, mente sobre matéria.
O cubo, é, portanto, o mundo material, aquele no qual o homem é
inserido e, quando ainda não despertado à realidade, o seu cárcere.
Mas como despertar e deconstruir a sua caixa? Como sair do cubo?
Novamente, as lições da Mística:
Há basicamente duas forças dentro de cada um de nós: uma nos puxando para dentro da caixa, e outra nos puxando para fora dela. A luta interior arquetípica no modelo egípcio é simbolizada num conflito entre Heru (Hórus) e Set (Seth). É a luta arquetípica entre forças opostas.
É necessário trabalhar as virtudes e alimentar a força criativa e romper os padrões do mundo material!
Mais do que isso, empreitar uma jornada de reconhecimento do seu próprio Seth interior, o ser desértico que habita o coração de cada homem, no aguardo de iluminação pelo Hórus reinante.
Para que na luta arquetípica Hórus possa vencer Seth, é necessário que sejam visualizados cada um dos obstáculos dentro de nós e controlados e/ou superados.
Para se libertar do cubo, descontruir sua própria caixa, há uma necessidade de olhar para si mesmo no espelho, e, deliberadamente, optar por negar (refrear) os vícios e afirmar (cultivar) as virtudes.
Refrear-se de vícios como inveja, falar pelas costas, não purgar a ignorância, não ser caridoso, o ego, preguiça, superconfiança, arrogância, ser evasivo, indiferença, gulodice, vícios de linguagem, raiva, hipocrisia, vaidade, etc.
Cultivar virtudes como: reconhecimento de um erro; firmeza e gratidão; devoção desinteressda, amor, anseio/desejo; resolução, ser verdadeiro; contemplação, exame e avaliação de si mesmo; paciência; silenciar e ouvir; fome de conhecimento; humildade; satisfação/contentamento; servidão; força de vontade/determinação; ação correta; sinceridade. (Mística egípcia, p. 49-50).
A proposta de sair do cubo é sair do estado de "dormência" no qual nos encontramos e buscar as respostas não fora, mas dentro de nós mesmos, adquirindo a consciência de que somos bem mais do que pensamos e que nosso poder é ilimitado.
É romper com as barreiras da ignorância e do medo e ousar questionar os limites de sua consciência.
É tornar viva a chama do espírito inquieto e transformador.
É voar mais longe do que imaginamos, romper a barreira da matéria e quebrar com o senso comum.
E junto com Hórus, desfrutar da calma beleza de sentarmos sob o trono da caixa recém quebrada.
Hotep!
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